Carisma e Vida: Clara, uma mulher livre!

Em tempos onde se fala constantemente sobre feminismo e empoderamento feminino, levando a mulher a se tornar autossuficiente e dona de si mesma, muitas vezes em busca de uma falsa liberdade, o exemplo de uma mulher que viveu no século XIII traz luz a esse assunto e nos ensina a sermos verdadeiramente livres.

Clara nasceu no ano de 1193, em uma família nobre e rica. Aos 18 anos, inspirada pelo profundo desejo de seguir a Cristo, deixou a casa dos pais e trocou a vida de riqueza e aristocracia pela humildade e pobreza do estilo de vida proposto e testemunhado por Francisco, decidindo dar tudo a Deus.

Assim inicia-se a história de Clara de Assis, oferecendo toda a sua vida, passado, presente e futuro, para que nela fosse realizada a obra de Deus. Clara, seguindo a sua vocação, se entregou a Deus sem reservas, desejando fazer unicamente a Sua vontade e, em troca, recebeu o sentimento de gozar de uma liberdade imensa, que nada no mundo lhe poderia roubar, razão de sua felicidade. A verdadeira liberdade, mais que uma conquista, é um dom gratuito de Deus, um fruto do Espirito Santo, dado à medida que nos colocamos em uma postura de dependência de amor diante do nosso Criador e Salvador.

Dessa forma, Clara nos ensina, com a sua vida, que a vocação é também um lugar onde Deus realiza e se realiza em sua vontade, pois em cada vocação, cada chamado, não há outra coisa senão um transparecer de Deus e da sua graça. Um transparecer de Deus que nos amou primeiro, escolheu a cada um de nós e que nos cumula de tantas bênçãos e dons para que sejam dados ao mundo. É no mundo que a vocação ganha sentido, para que Deus possa triunfar nos corações humanos.

Na vivência da sua vocação, toda pautada no amor a Deus, Clara se vê atraída de tal maneira pelo Cristo crucificado, sem riqueza ou beleza alguma, pobre, casto e obediente na cruz, entregue em plenitude para a salvação da humanidade, que livremente se aproxima desse Cristo para amá-Lo sobre todas as coisas. E, por isso, quando Francisco encontrava-se com ela e perguntava: “o que procuras?”, a resposta de Clara, única, firme e plena, era: “eu quero Deus”.

E assim, Clara torna clara todas as coisas, pois nos permite chegar ao mais profundo do coração humano através do seu amor a Deus. E é no amor que encontramos a liberdade, pois não se pode ser livre sem amor. Encontramos em Clara uma mulher que amava e por isso era totalmente livre. Livre a ponto de não querer nada, de não desejar nada a não ser, ser de Deus. Uma liberdade no amor que a fazia, por exemplo, solicitar um privilégio do Papa Inocêncio para que ninguém obrigasse suas irmãs a terem propriedade alguma. Para Clara, esse papel assinado pelo Papa era a única coisa de valor guardada em casa. Alcançando uma graça particular da santa Igreja de nada possuir, porque quem ama e se sente amado, não precisa de mais nada.

Clara viveu essa liberdade todos os dias, até o último dia de sua vida, no mais total abandono, sem inquietação e sem medo, não tendo nenhuma outra preocupação senão fazer a vontade de Deus, estando plenamente disponível aos acontecimentos e pessoas. E quando uma pessoa consegue viver de seus recursos interiores, pode até ser trancada em uma prisão: continuará livre.

Que através do exemplo de Santa Clara, possamos buscar cada vez mais a verdadeira liberdade, que é interior. Uma liberdade enriquecedora porque sempre pode recolher e rever o que tinha sido jogado na sombra, como lixo. Pois é na profundidade daquilo que somos que descobrimos a profundidade do amor de Deus, e experimentamos que não estamos sós. Um Deus que entra no mistério mais íntimo de nossa humanidade, não como espectador ou juiz, mas como alguém que nos ama, nos liberta e nos salva.

 

Ligia Vaz – Noviça da Comunidade Católica dom de Deus

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