Vocação: o encontro de duas liberdades

                                                                                                                                                                   “Só é possível fazer a vontade de Deus quando compreendemos que essa vontade não é outra coisa, senão, também, uma reciprocidade ao amor de Deus” (Pe. Cláudio Lima).

Desde toda eternidade Deus formou em cada filho uma identidade, que é composta pela sua filiação divina, sexualidade, carisma específico (graça dada a alguns homens em favor da Igreja e da humanidade), estado de vida, entre outros.[1] Através da nossa identidade, Deus imprime a Sua expectativa sobre nós, isto é, aquilo que intimamente desejamos ser: o eu ideal. Portanto, para conhecer plenamente a nossa identidade é preciso ter clara a identificação da vontade de Deus sobre a nossa vida. Santa Teresinha afirmava: “Sou o que Deus pensa de mim”. Logo, toda a sua identidade só poderia ser encontrada no pensamento do Criador. Assim também, nós só poderemos nos reconhecer se conhecermos mais intimamente à Deus.

Entre os diversos aspectos escolhidos por Deus para formar nossa identidade, está a vocação, que pode ser compreendida como um encontro de duas liberdades: o chamado realizado pelo Criador, e a resposta dada pelo homem. Santa Clara de Assis escreveu em seu testamento que “a nossa vocação é o maior de todos os benefícios que recebemos e diariamente continuamos a receber do nosso benfeitor, Pai das misericórdias, pelos quais devemos render infinitas graças; e quanto mais perfeita e sublime ela é, tanto mais d’Ele nos tornamos devedores. Por isso diz o Apóstolo: ‘conhece a tua vocação’”.

Cada um de nós em seu estado de vida – matrimônio, celibato consagrado ou sacerdócio –, e alguns também em seu carisma específico, é chamado a servir e a se santificar através deste chamado que Deus realiza de maneira pessoal e irrepetível.

São João Paulo II nos dizia que “todos os estados de vida, tanto no seu conjunto como cada um deles em relação com os outros, estão a serviço do crescimento da Igreja, são modalidades diferentes que profundamente se unem no ‘mistério de comunhão’ da Igreja e que dinamicamente se coordenam na sua única missão”[2], ou seja, cada vocação, com as suas particularidades, além de constituir um benefício pessoal, presta um serviço para as outras vocações e para a Igreja. É necessário, portanto, que nos disponhamos a discernir e corresponder ao chamado pessoal que Deus revela a nós, pois, como afirma Philippe Madre, “a aposta é importante, para cada um, e para a Igreja”[3].

Sendo a vocação um traço da nossa identidade, é preciso trilhar um caminho de descoberta da mesma, discernindo os sinais impressos por Deus na nossa história.

Segundo o Papa Francisco, no documento Os jovens, a fé e o discernimento vocacional, “o Espírito fala e age através dos acontecimentos da vida de cada um, mas os eventos em si mesmos são mudos ou ambíguos, uma vez que podem ser interpretados de diferentes modos. Iluminar o seu significado em ordem a uma decisão exige um percurso de discernimento”[4]. Ele ressalta ainda que é preciso reconhecer os sinais, interpretá-los e escolher, isto é, tomar uma decisão. E, em carta aos jovens, ele diz que “isto será possível na medida em que, inclusive através do acompanhamento de guias especializados, souberdes empreender um itinerário de discernimento para descobrir o projeto de Deus na nossa vida”[5].

Portanto, o chamado a uma vocação é percebido através do esforço pessoal e da graça interior que nos é concedida e que nos prepara para, em momento oportuno, reconhecer os sinais da vocação na nossa história de vida.

Durante o processo de discernimento, muitas vezes há uma mudança de rumo em nossa vida, pois, segundo Madre, através deste “período de reviravolta”, onde somos portadores de uma insatisfação positiva que nos estimula a desejar uma maior doação a Deus, mesmo que ainda não saibamos como, realiza-se em nós a preparação do salto necessário para se lançar na vocação. Portanto, neste caminho de discernimento vocacional, se “a consciência vos pedir para que arrisqueis para seguir o Mestre”[6], não se deve hesitar, pois, como afirmara Santa Teresa de Jesus, “são felizes as vidas que se consumirem no serviço da Igreja”.

Assumir a vocação é assumir a própria identidade, respondendo a um chamado que vale a pena, vale a vida!

A messe é grande, mas os operários são poucos. Enviai, Senhor, operários para a Vossa messe.

Giseslle Estupinhã – Discípula da Comunidade Católica dom de Deus.

[1] NOGUEIRA, M. E. O.; LEMOS, S. M. L. Tecendo o Fio de Ouro: Caminho Ordo Amoris. Aquiraz: Edições Shalom, 2009.

[2] João Paulo II. Carta Ap. Christifideles Laici, 50.

[3] MADRE, Philippe. Vinde e Vede: O chamado de Deus e o discernimento vocacional. São Paulo: Paulinas, 2010.

[4] Papa Francisco. Documento Preparatório Os Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional. Disponível em: <http://www.vatican.va/roman_curia/synod/documents/rc_synod_doc_20170113_documento-preparatorio-xv_po.html>

[5] Papa Francisco. Carta aos jovens por ocasião da apresentação do documento preparatório para a XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos. Disponível em:

[6] Cf. Papa Francisco. Documento Preparatório Os Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional.

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