Liturgia e Vida: O Sagrado se oferece a nós como dom

O caráter sagrado, no âmbito da liturgia, trata-se do mistério da salvação em Cristo, mistério confiado à Igreja, para que essa o torne disponível em qualquer tempo e lugar, através da objetividade do rito litúrgico-sacramental. Pois como nos diz a Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium, “toda celebração litúrgica, enquanto obra de Cristo que é a Igreja, é ação sagrada por excelência”.
É perceptível a distância que há entre alguns modos de agir e o autêntico espírito da liturgia. Sob o pretexto de criatividade mal concebida, às vezes chega-se a distorcer, nas mais variadas maneiras, a liturgia da Igreja. Como afirmou o cardeal Ratzinger: “no mínimo necessita de uma nova consciência litúrgica, que subtraia espaço à tendência de agir sobre a liturgia como se fosse um objeto de nossa habilidade manipuladora”. Quando assim ocorre, se reduz o lugar onde nos encontramos com Deus, e no qual o sagrado se oferece a nós como dom.
A liturgia é dom que nos precede, tesouro precioso que nos foi confiado pela oração secular da Igreja, é lugar em que a fé da Igreja encontrou forma e expressão orante no tempo. Na liturgia, a Igreja reconhece “oficialmente” a si mesma, o seu mistério de união esponsal com Cristo, e aí “oficialmente” se manifesta.
Na ação litúrgica, tudo deve conduzir à adoração e à união com Deus: música, canto, silêncio, maneira de proclamar a Palavra do Senhor e o modo de orar, os gestos, as vestes litúrgicas e objetos sagrados, como também o edifício sagrado no seu conjunto.
Na liturgia eucarística, tudo deve ser voltado para a adoração, e tudo no desenrolar do rito ajuda a entrar no interior da adoração que a Igreja faz ao seu Senhor. Considerar a liturgia como lugar da adoração, da união com Deus, não significa perder de vista a dimensão comunitária da celebração litúrgica, nem muito menos esquecer o horizonte da caridade. Ao contrário, somente através de uma renovada adoração do mistério de Deus em Cristo, mistério que toma forma no ato litúrgico, poderá brotar uma autêntica comunhão fraterna
Assim, a verdadeira ação que se realiza na liturgia é ação do próprio Deus, é a sua obra salvífica em Cristo, na qual recebemos participação. Entre outras, a verdadeira novidade da liturgia cristã, em relação a qualquer outra ação de culto, é a seguinte: o próprio Deus age e cumpre o que é essencial, enquanto o homem é chamado a uma abertura diante da ação de Deus, para ser transformado por esta.
Nesse sentido, a verdadeira educação litúrgica não pode consistir simplesmente na aprendizagem e exercício de atividades exteriores, e sim no introduzir-se na ação essencial, na obra de Deus, no mistério pascal de Cristo. É por este mistério que o fiel precisa deixar-se alcançar, envolver e transformar. E que não se confunda a execução de gestos externos com o justo envolvimento da corporeidade no ato litúrgico. Sem nada tirar do significado e da importância do gesto externo que acompanha o ato interior, a liturgia pede muito mais ao corpo humano. É o que Bento XVI denominou “coerência eucarística”. O exercício pontual e fiel dessa coerência é precisamente a expressão mais autêntica da participação também corporal no ato litúrgico, na união salvífica de Cristo.

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